Como já se é de conhecimento clínico, a leucemia felina viral (FeLV) é uma doença exclusiva dos gatos e atinge diretamente o sistema imunológico destes animais. Dentre os sinais apresentados pelos pets, nota-se perda de peso, anemia, imunodeficiência e desenvolvimento de tumores.
Por sua alta taxa de propagação, a enfermidade também é conhecida como ‘doença dos gatos amigos’, termo referente ao costume de lamber uns aos outros, para manutenção da higiene. O vírus, além da saliva, também pode ser transmitido pelo contato com a urina ou com as fezes de animais infectados, além da placenta e amamentação. No entanto, a mordedura entre gatos que brigam também representa um risco para a transmissão da doença.
Causa que, segundo a professora de clínica médica de felinos domésticos da graduação e da pós-graduação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Dra. Fernanda Vieira Amorim da Costa, quando aliada à falta de medidas de prevenção como a vacinação, fazem da doença um problema maior ainda, como é o caso brasileiro.
Alta incidência de casos segue preocupando profissionais
“Essa é uma doença que nos traz frustrações todos os dias na clínica de felinos, por isso a missão é falar sobre este vírus altamente contagioso, que por sinal é muito prevalente na rotina de todos que atendem gatos no Brasil e que determina um prognóstico muito grave”, explica ela.
De acordo com a profissional, que também trabalha no Hospital Veterinária da instituição onde leciona, “é muito frustrante ouvir dos alunos, tanto da graduação, quanto da pós, indagações sobre estudar clínica de felinos ‘se todos eles morrem de FeLV”.
Para ela, o que se acompanha no atendimento clínico brasileiro atual é uma variação que causa muita preocupação nos profissionais da área. “Conseguimos observar que essa é uma doença que varia em prevalência de 0,33% lá em São Luiz do Maranhão até 47% em Belo Horizonte”, pontua.
“A cada 10 gatos que entram no hospital para atendimento, por qualquer motivo que seja, três estão infectados pelo FeLV. Isso no panorama dos animais que conseguimos testar”, afirma.
Tais números firmam um estado de preocupação. “Se compararmos alguns dados, como os disponíveis do ano de 1992, por exemplo, podemos notar uma elevação muito grande da prevalência da doença. Parece que estamos correndo contra o resto do mundo, enquanto nos outros países, como alguns da Europa e Estados Unidos, a tendência é de queda, na América do Sul o caminho se mostra contrário”, contextualiza a médica-veterinária.
Controle do número de animais em situação de rua é essencial
Mais atenção à prevenção, por favor. Acerca do comparativo realizado por Fernanda, a mesma destaca que a pouca importância dada para a doença é o que tem feito com que os números sigam em ascensão. “Nós sabemos o caminho usado por países da América do Norte e da Europa para conseguir reduzir o número de infectados. Isso ocorreu porque testaram, vacinaram e isolaram cada vez mais os animais infectados”, conta, complementando que aqui no Brasil, mesmo que queiram, os abrigos sozinhos não conseguem dar conta de realizar todas as ações.
“Nestes países, há uma preocupação maior em questão dos animais de rua, pois são testados quando recolhidos e se conhece em qual quadro já se encontra a doença. Além de haver uma preocupação maior com o controle populacional de animais de rua. Aqui tudo isso fica à cargo dos próprios resgatadores e tutores, o que se não for bem avaliado, faz com que os animais se espalhem por doações e seja perpetuada a doença em algumas regiões”, alerta, indicando São Paulo como exemplo.
“Ainda não temos programas do governo que se preocupam em recolher animais da rua e fazer campanhas de castração, mas precisamos entender que o caminho já é conhecido, sabemos como melhorar, mas se não trabalharmos juntos com o que temos agora, que é orientar adequadamente os tutores de gatos, os números continuarão crescendo”, finaliza Fernanda.