Introdução
As doenças transmitidas por vetores seguem sendo um desafio relevante na clínica de pequenos animais no Brasil, com destaque para a leishmaniose visceral canina (LVC), dirofilariose e ehrlichiose. Elas demandam atenção do médico-veterinário não apenas pelo potencial zoonótico (em alguns casos), mas também pela complexidade diagnóstica e pelo risco de evolução silenciosa.
Este artigo apresenta um panorama clínico e epidemiológico dessas enfermidades, com foco em prevenção, diagnóstico e abordagem clínica, respeitando os limites éticos da divulgação técnica.
1. Leishmaniose visceral canina (LVC)
Agente: Leishmania infantum
Vetor: Lutzomyia longipalpis
Zoonose: Sim
Pontos clínicos:
- Curso crônico e multissistêmico
- Manifestações dermatológicas, renais e hematológicas
- Alta prevalência em regiões endêmicas e periurbanas
Diagnóstico:
- Testes sorológicos de triagem e confirmação
- PCR em amostras específicas pode auxiliar o diagnóstico definitivo
- Avaliação clínica e laboratorial complementar é essencial para estratificação do paciente
Conduta clínica:
- O tratamento deve ser individualizado, levando em conta estágio clínico, exames laboratoriais e protocolo definido por diretrizes atualizadas e registro oficial.
- A abordagem deve incluir controle vetorial e monitoramento periódico.
Prevenção:
- Medidas físicas (coleiras repelentes, telas, ambientes telados)
- Vacinação em regiões onde há indicação epidemiológica
- Educação continuada ao tutor e envolvimento da comunidade
2. Dirofilariose (verme do coração)
Agente: Dirofilaria immitis
Vetor: Mosquitos Aedes, Culex, Anopheles
Zoonose: Potencial
Pontos clínicos:
- Afeta o sistema cardiovascular e respiratório
- Muitas vezes assintomática nos estágios iniciais
- Progressão pode levar a insuficiência cardíaca
Diagnóstico:
- Testes sorológicos de antígeno e pesquisa de microfilárias
- Exames de imagem são fundamentais na avaliação de comprometimento cardíaco
- Diagnóstico diferencial com outras doenças cardiopulmonares é indispensável
Abordagem clínica:
- A conduta terapêutica requer planejamento individualizado e acompanhamento veterinário contínuo, especialmente para evitar reações inflamatórias e tromboembólicas.
Prevenção:
- Profilaxia contínua é altamente eficaz e recomendada nas áreas endêmicas
- Avaliação prévia de infecção ativa antes do início do protocolo preventivo
3. Ehrlichiose monocítica canina
Agente: Ehrlichia canis
Vetor: Rhipicephalus sanguineus
Zoonose: Rara, mas possível
Pontos clínicos:
- Três fases: aguda, subclínica e crônica
- Trombocitopenia persistente é um achado marcante
- Coinfecções são comuns em regiões endêmicas
Diagnóstico:
- Hemograma completo com atenção especial à série vermelha e plaquetas
- Testes sorológicos e PCR auxiliam na confirmação
- Avaliação clínica é indispensável para definir a fase e a resposta ao tratamento
Abordagem:
- O tratamento deve ser conduzido exclusivamente pelo médico-veterinário, com acompanhamento clínico e laboratorial.
- Casos crônicos podem demandar suporte adicional, incluindo imunomodulação e controle de infecções oportunistas.
Prevenção:
- Controle rigoroso de ectoparasitas no ambiente e no animal
- Orientação aos tutores sobre a importância da prevenção contínua, mesmo em meses mais amenos
Conclusão
As doenças transmitidas por vetores exigem vigilância constante do médico-veterinário, tanto em áreas endêmicas quanto em regiões com histórico esporádico. A abordagem baseada em evidências, a prevenção sistemática e a comunicação com os tutores são fundamentais para o sucesso clínico e para a saúde pública.
Fontes de referência:
- Ministério da Saúde – Manual de Vigilância da Leishmaniose Visceral:
https://www.gov.br/saude - Companion Animal Parasite Council (CAPC):
https://capcvet.org - Sociedade Brasileira de Parasitologia Veterinária (SBPV):
http://www.sbpv.org.br - IDEXX Laboratories – Diagnóstico laboratorial em doenças infecciosas:
https://www.idexx.com